Boa tarde.
Continuando o projeto passado...
Às vezes esqueço-me da porta e uma visita me surpreende – minha reclusão resultou numa sombria incapacidade, talvez inabilidade de falar: algo como uma atrofia nas cordas vocais, ou um bloqueio mental, uma timidez exacerbada – e sinto-me desqualificado, um peixe fora d’água. Exceto com Ela, com quem não falo: Ela vem, invade meu mundo para me ignorar – olha através da minha janela falsa, se protege da chuva que a banheira do andar de cima e o mau estado do prédio produzem, faz de tudo para não ver o arco-íris que não está lá – e, sem motivo, continua a me ver, a me tocar quando durmo, a me observar aos sonhos que me afligem tanto quanto os pesadelos. Mas só Ela me faz bem. Só com Ela me sinto aceito, apesar d’Ela não me aceitar – com Ela, me sinto um surdo num cinema mudo e eu finalmente entendo. E as cenas se repetem como fariam normalmente, se não fosse a platéia.
Até logo e boa-sorte
Eu queria saber fazer uma descrição tão divertida quanto a sua! ;)
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